A sensação que tenho é que acordei de um sono profundo. Vago
pelas ruas como uma sonambula.
O sol por entre as frestas da janela já não me
alegra como antes. O rapaz que mora na calçada da esquina e deu para falar
sozinho já não me comove ao extremo. Estou lenta. Vagarosa. E todo e qualquer planejamento
me leva à exaustão mental e emocional.
Planejar o almoço é um suplício! Primeiro porque não estou
conseguindo planejar absolutamente nada com esta merda de consciência embotada;
segundo porque planejar o almoço implica em ir ao mercado e escolher alimentos “certos”
e “limpos” para não engordar.
E depois de escolher "os alimentos certos" (abobrinha, ovos,
brócolis, queijo branco, folhas, etc e tal) ainda tenho que prepara-los. Só de
pensar em desfiar toda aquela maldita abobrinha para que ela fique parecendo um
espaguete me dá vontade de subir num foguete e desaparecer no espaço sideral.
Acabo tomando um café e comendo um pão de queijo na rua. Adio
o almoço para o jantar.
Então é isso, além de ter ficado meio burra - sim, porque desde que parei de fumar não
consigo me concentrar nem mesmo na leitura de uma revista feminina – também perdi
completamente minha capacidade de planejar o que quer que seja.
“Acalme-se, mocinha, acalme-se. Isso é só uma fase e você
sabe que vai passar”. Tenho repetido esse mantra todos os dias.
Acontece que se o tempo não para nem quando quebramos nosso
coração, que dirá quando paramos e fumar: os parceiros de trabalho começam a
querer agendar reuniões, surge um novo show para fazer (e você só de imaginar o
ensaio senta e chora), a fatura do cartão explode; você precisa escrever um
novo texto para a sua coluna, mas tudo o que consegue fazer é chorar diante da
tela branca.
É isso! A terceira semana sem cigarro é uma tela branca, um
branco total. A mente fica branca, não funciona, os dias ficam brancos, lentos
e sem cor; nosso raciocínio fica branco, as ideias desaparecem, o humor
desaparece, o sono desaparece, a libido desaparece, parece que tudo desaparece
e sobra apenas angustia, vontade de chorar, aperto no peito, medo de não
conseguir levar o projeto saúde adiante, medo de engordar, medo de ficar burro pra sempre, medo de perder oportunidades de trabalho e, ufa, um certo
orgulho por estar conseguindo se manter sem fumar mesmo assim.
“Não”. Eis a palavra que dá vontade de sair berrando por aí - talvez “não
perturbe” seria mais apropriado.
Já disse isso por aqui, mas não custa repetir: escolha começar
essa jornada quando puder tirar férias ou se afastar do trabalho por um tempo,
ou seja, quando puder pendurar a plaquinha de “não perturbe” nas portas de acesso a você.
No mais, eis os melhores amigos da terceira semana: selinho de nicotina
(NiQuitin 21mg), suco anti-fumo todas as manhãs, duas horas de atividade física
diária, gotinhas de homeopatia e floral.
Nota: o relato acima foi escrito no bloco de notas do meu
celular na terceira semana sem cigarro -
como já expliquei, venho fazendo um pequeno um diário desde que parei de
fumar, há 9 meses, mas somente agora me senti apta a publicar e partilhar.
monicamontone
imagem: google
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